Dólar tem grande chance de superar R$ 6 no curto prazo, diz gestora da Itaú Asset

Bloomberg Línea — O real tem um espaço cada vez mais limitado para engatar um movimento consistente de valorização frente ao dólar diante de preocupações crescentes dos investidores com a situação fiscal do Brasil.

Essa é a avaliação de três gestores que participaram nesta segunda-feira (14) de um painel do Macro Vision 2024, evento do Itaú BBA sobre as perspectivas para a economia, realizado em São Paulo.

Para Mariana Dreux, gestora do fundo Yield Plus, da Itaú Asset, a moeda americana tem grande chance de ultrapassar a marca de R$ 6 no curto prazo, como reflexo da fragilidade das contas públicas. O dólar fechou hoje cotado a R$ 5,59, com uma valorização de 15,30% no ano.

“Temos um cenário difícil à frente. Temos uma relação dívida/PIB muito alta, perto de 80%. Estamos praticamente há dez anos sem gerar superávit primário, com a dívida líquida crescendo e juros altos. Diante de tudo isso, acho que o câmbio tem grandes chances de passar dos R$ 6 no curto prazo”, afirmou Dreux.

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A gestora disse que a Itaú Asset revisou, por exemplo, a projeção para o superávit comercial de US$ 110 bilhões para US$ 80 bilhões em 2024, em cenário que incorpora o aumento das importações decorrente da maior atividade econômica. Neste ano, até a segunda semana de outubro, a balança comercial acumula superávit de US$ 61,5 bilhões.

Segundo a mediana das projeções do mais recente boletim Focus, com economistas de mercado, o dólar encerra o ano de 2024 negociado a R$ 5,40.

Rogério Xavier, gestor da SPX Capital, também alertou para os riscos de uma piora contínua das contas públicas, lembrando que historicamente os gastos governamentais tendem a crescer nos anos anteriores à eleição presidencial. Isso torna improvável, segundo ele, um cenário de déficit zero no curto prazo.

“Estou com uma visão negativa para o real. O Brasil está com uma dívida em aceleração forte. Se continuar sem conter gastos, essa dívida pode explodir, e o dólar vai continuar subindo se o problema fiscal não for endereçado”, previu Xavier, que chamou a atenção ainda para a desaceleração acentuada da China, maior parceiro comercial do Brasil.

Bruno Serra, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central e hoje gestor da Itaú Asset, apontou a cautela dos investidores com a trajetória dos juros no Brasil e nos EUA, bem como o diferencial entre as taxas dos dois países, como fator adicional para explicar a depreciação do real desde o fim do primeiro semestre.

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Mas, diferentemente dos outros dois participantes do painel, Serra disse enxergar a possibilidade de uma recuperação da moeda brasileira no curto prazo. Esse movimento dependeria, no entanto, de uma melhora do cenário doméstico em uma janela de seis a nove meses, que coincidiria com o início de gestão do próximo presidente do BC, Gabriel Galípolo, a partir de janeiro de 2025.

“O mercado estava cauteloso com os juros. As expectativas de inflação desandaram. A transição no BC também gerou ruído. Sanados esses problemas, vejo espaço para o real ir bem no curto prazo”, disse o ex-diretor do BC.

Os três profissionais concordaram que o resultado da eleição presidencial norte-americana, em novembro, trará impacto para a economia global, a dependendo de quem seja o vencedor.

Para o Brasil, uma eventual volta do republicano Donald Trump à Casa Branca significaria, segundo o gestor da SPX, o aumento do protecionismo com maiores tarifas para os produtos da China, com consequências negativas para o Brasil.

Situação fiscal nas empresas

Em outro painel do Macro Vision 2024, quatro líderes de grandes companhias abertas – David Feffer (Suzano), Horário Lafer Piva (Klabin), Ricardo Botelho (Energisa) e Milton Maluhy Filho (Itaú Unibanco) – abordaram os desafios de seus grupos centenários de encontrar oportunidades de crescimento em um país historicamente marcado por crises econômicas, nível baixo de escolaridade da população e fragilidade da situação fiscal.

Para garantir a longevidade de suas organizações, eles citaram o compromisso das famílias fundadoras com a inovação, uma visão de longo prazo e um foco no relacionamento duradouro com acionistas e parceiros.

Outros fatores destacados pelos executivos foram investimentos no desenvolvimento de funcionários, em governança sólida e na criação de uma cultura corporativa resiliente aos gargalos do país, como a insegurança jurídica, a burocracia e os conflitos políticos.

“Temos muitos problemas para resolver, como a falta de educação. O Brasil ainda patina nessas questões. Empresas centenárias, como as nossas, que já adquiriram escala, conseguem avançar porque temos a possibilidade de valorizar os talentos, trazer profissionais bons, investir em pesquisas e inovar”, disse o chairman da Klabin.

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Por www.bloomberglinea.com.br

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