Bloomberg Línea — O Mustang, um dos carros esportivos mais icônicos do mundo, completa 60 anos de existência em 2024. E, no mercado brasileiro, o modelo passa por um de seus melhores momentos em termos de vendas. Para a Ford (F), esse pode ser apenas o começo de uma nova fase no mercado brasileiro.
“Temos uma oportunidade no Brasil de continuar a crescer entre o público com renda mais alta”, disse o diretor de marketing da Ford na América Latina, Marcel Bueno, em entrevista à Bloomberg Línea.
Modelos como o Mustang, o Camaro, da Chevrolet, e o Charger, da Dodge, têm em comum a potência, o design “musculoso” e o “ronco” do motor e ainda carregam muitos fãs ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, onde a cultura dos chamados muscle cars é ampla e difundida.
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No Brasil, há uma oferta mais restrita de modelos que disputam esse segmento de mercado.
O Mustang é um deles, sendo oferecido em duas versões: no motor V8 (gasolina), a partir de R$ 529 mil, e no motor 100% elétrico, com preços a partir de R$ 486 mil.
A nova geração do esportivo, o Mustang GT Performance, chegou ao mercado local em março deste ano e foi o responsável pelo crescimento expressivo das vendas do modelo em 2024. No acumulado até setembro, a montadora emplacou 542 unidades (a combustão) e 216 do Mach-E (elétrico).
Para o consolidado do ano, a Ford estima um crescimento das vendas de aproximadamente 65% sobre 2023. “Há um desejo muito grande por essa geração do carro”, disse Bueno. “O segmento está bastante aquecido e devemos fechar o ano com um ritmo alto [de vendas].”
O mercado de esportivos no Brasil saiu de aproximadamente 2.900 unidades em 2019 para cerca de 5.400 em 2024, segundo projeção da Bright Consultoria Automotiva.
O desempenho em um momento de dificuldades da indústria automotiva de voltar aos patamares pré-pandemia nos segmentos mais populares.
“De 2019 para 2024, a participação dos esportivos nas vendas totais do mercado mais do que dobrou”, afirmou o diretor da Bright, Murilo Briganti.
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Atualmente, a Porsche lidera o segmento de esportivos no país, seguida da Ford com o Mustang. Briganti disse que isso se deve em grande razão pelo posicionamento da marca alemã, que no Brasil optou por uma estratégia de preços mais competitivos.
Para Bueno, a dinâmica entre oferta e demanda tem que ser equilibrada. “Não queremos um crescimento descontrolado, mas que seja consistente ao longo do tempo. Quando a relação com o cliente é apenas transacional, decepciona quem compra”, disse.
Estratégia de longevidade
O diretor da Ford disse que o público-alvo do Mustang no Brasil é 90% masculino, na faixa etária acima dos 45 anos e com alta renda.
Isso significaria, portanto, não ter que enfrentar o desafio de outros segmentos do mercado de atrair jovens da Geração Z (15 a 27 anos de idade), menos apegados à posse de bens, especialmente os mais caros.
Mas o executivo disse que a Ford busca, sim, aproximar o Mustang das novas gerações. A estratégia passa pela oferta de tecnologia, além do apelo da versão eletrificada (veja mais abaixo).
Há uma estratégia mais agressiva de marketing de influência, segundo ele, com a nomeação de embaixadores que possam gerar conexões com a marca. O executivo citou como exemplos a skatista profissional e piloto de drift Letícia Bufoni, além de seu colega de esporte Diego Higa.
“Nosso foco não é somente em quem pode comprar o carro hoje, há uma estratégia de construção de imagem. Também miramos aqueles que talvez possam comprar o Mustang no futuro”, disse Bueno.
Apelo da eletrificação
Enquanto a indústria automotiva global luta para expandir a oferta de carros elétricos, a Ford aposta que o consumidor do segmento esportivo também vai abraçar a eletrificação.
Com 487 cavalos de potência, o Mach-E promete acelerar de 0 a 100km/h em 3,7 segundos. “Temos conseguido atrair um público diferente do Mustang V8, cujo cliente é mais conservador. Com o Mach-E, temos atraído consumidores também adeptos da tecnologia de eletrificação.”
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No geral, os esportivos têm se mantido afastados das oscilações econômicas.
“O Mustang atua em uma categoria que é menos afetada no curto prazo por variações, seja de dólar, seja da economia”, disse Bueno.
O executivo afirmou que a montadora acompanha as movimentações do dólar e da economia, mas a estratégia visa passar uma mensagem de consistência de posicionamento ao cliente, evitando variações.
Em sua avaliação, a Ford tem uma grande oportunidade no Brasil. “Com a evolução do agronegócio e de outros setores do país, teremos recursos para o crescimento do mercado. Prova disso é o volume crescente das vendas de esportivos e essa tendência deve continuar”, afirmou.
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